Minas Gerais vive um longo período de estiagem, responsável pela incidência de secas extremamente graves. Esse tipo de clima traz consigo problemas como o déficit do abastecimento de água e o aumento dos custos na agricultura. O pequeno criador rural, sobretudo do norte do Estado, está sem recursos para saciar a sede até mesmo do gado, e a situação já afeta a economia e a renda das famílias que dependem da lavoura e da criação para sua subsistência.
No passado, a situação era vivida principalmente pelas comunidades da região do semiárido, mas, atualmente, atinge praticamente todo o Estado. Para se ter uma ideia, até meados de agosto, o boletim da Defesa Civil estadual informava que 141 municípios mineiros haviam decretado situação de emergência em função da seca. Dentre eles estão lugarejos que se promoveram como ponto turístico a partir de pequenos e grandes empreendimentos reconhecidos pela abundância de água e grandes reservatórios, porém, devido ao clima atual, enfrentam dificuldades com a escassez de água e com a falta de investimentos para a preservação desse bem.
“Como praticamente todos os municípios estão convivendo com essa situação, não basta somente aguardar que a precipitação volte a ocorrer com mais intensidade”, defende o consultor do Departamento de Meio Ambiente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Gilberto Morato, explicando que algumas alternativas podem e devem ser tomadas pelos gestores públicos para o enfrentamento da crise.
Neste sentido, destacam-se ações de incentivo à proteção de nascentes e margens de cursos d’água, bem como a construção de pequenas escavações no solo, que funcionam como caixas d’água naturais, capazes de armazenar água da chuva, o que garante umidade ao solo, por algum tempo, após a estação chuvosa. “Apesar de o semiárido ser quase sempre associado a situações de escassez absoluta de água, na região ocorrem chuvas com certa frequência, porém, elas costumam ser concentradas em curtos períodos de tempo durante o ano”, esclarece Gilberto.
Responsável por planejar e promover ações direcionadas à preservação da quantidade e da qualidade das águas de Minas Gerais, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) informou que na região nordeste do Estado, por exemplo, a previsão de chuva para 2013 era de 800 milímetros, volume considerado normal para a estação, porém, os reservatórios registraram somente o provimento de 500 milímetros. Para 2014, a previsão de chuva entre os meses de setembro e novembro é razoável, mas servirá apenas para reparar a situação de seca deixada pela última estiagem.
A gerente de Projetos e Programas em Recursos Hídricos do Igam, Geane Dantas de Carvalho, comenta que as ações desenvolvidas pelos municípios devem contemplar a convivência com o semiárido e não o enfrentamento da seca. “Nossos esforços estão voltados principalmente para as regiões do semiárido mineiro, embora a situação já alcance várias partes do Estado. Temos algumas frentes de trabalho, como o ‘Proágua’ e ‘Água Doce’, programas que visam o abastecimento e o tratamento da água, tornando-a potável e própria para o consumo das famílias”, esclarece.
Realidade
Localizada no extremo norte de Minas Gerais, a cidade de Montalvânia está na lista dos municípios que decretaram situação de emergência em função da seca. Afetada nas suas áreas urbana e rural, a cidade recorreu à Defesa Civil e sua situação emergencial já foi reconhecida pela União. Os prejuízos locais são relevantes, como a perda de lavouras e a diminuição da capacidade de suporte das pastagens, o que levou, até o momento, à venda de mais de 30 mil animais por preços inferiores aos praticados no mercado.
De acordo com o prefeito do município, Jordão Missias Lopes Medrado, a finalidade do decreto foi minimizar os danos causados pela estiagem, levando-se em conta os empréstimos financiados pelo governo federal aos produtores rurais, que hoje têm dificuldades para honrar seus compromissos. “O decreto irá oferecer condições especiais para que possam facilitar a negociação, renegociação e prorrogação de prazos dos débitos junto às instituições bancárias, além de outros benefícios de apoio da Defesa Civil, como abastecimento de água e distribuição de cestas básicas à população de baixa renda atingida pela estiagem”, justificou.
Ao mesmo tempo, para encarar a situação, a prefeitura fortaleceu um consórcio com outros seis municípios vizinhos, por meio do qual conseguiu recursos no Ministério de Desenvolvimento Social. “Estão sendo construídas barragens, calçadão e trincheiras para melhorar a produtividade e a renda dos produtores rurais, além da instalação, em Montalvânia, de 756 cisternas, com capacidade de 16 mil litros, para captação de água da chuva”, comentou Jordão.